Saturday, September 17, 2011

apago me
não me extingo
sublinho-me de forma
que me apague
na gordura do traço

Monday, July 25, 2011

o pé adormece aborrecido
pela escolha de uma perna
que se justifica ordenada.
alinhada por uma outra gémea
espelhada

tenho um espelho que me atravessa
mesmo pelo meio das minhas pernas
que criam um segundo de mim mesmo
que persiste em me copiar pelo oposto
só para que se justifique como único.

um cálculo enganado
é este corpo comandado
um corpo soldado
pouco me importa as pétalas
sei apenas que um corpo nu
não passa de um corpo nu
que obtém consciência de si mesmo
quando um vento, uma brisa ou outra merda qualquer lhe toca

um corpo não passa de um corpo
e nu deixa de ser adjectivo e passa a ser uma condição feliz
por ter sido notada por elementos terceiros
que nada lhe assistem e muito menos o vestem.


aplausos!

Wednesday, February 2, 2011

diz a taciturna sombra da cautela,

"amedronta o espelho para que não se parta!"

Wednesday, December 15, 2010

"Tem papel de parede na face interior da sua cabeça, colada com goma rançosa e ainda por cima por mãos pouco hábeis e dadas ao descuido e à imperfeição" explicou lhe a densa criatura com ar douto. "o truque é cortar o veio ao longo do seu comprimento e reaplicar uma goma mais fina de modo a curar lhe essas dores de cabeça" e terminou dizendo com firmeza "se tentar arrancar o papel à força vai lhe puxar a cara para dentro e só vai ter olhos para o que tem dentro da sua cabeça" acenei que sim.
quando abria a boca
os dentes eram muralhas
tal qual os dedos dos pés
que cerravam
numa contrição nervosa

os ombros de tão descaídos
pareciam umas estranhas ancas
colocadas a meia haste
num torso já de si desactualizado

as mãos numa prece
eram já um bloco quadriculo
que assentava numa mesa
pisando papeis não pisando

dos joelhos nada a apontar

mas a cabeça
...essa
carece de outros versos
a mãe de todos os ventos
cresce primeiro nos pelos dos braços
que eriçam

só isso

ocorre agora que talvez
a electricidade é a mãe de todos os pelos